quarta-feira, 25 de setembro de 2013

ÁRTICO: A MAIOR VÍTIMA DO AQUECIMENTO GLOBAL


As mudanças no ciclo natural de congelamento e degelo são decorrência do aumento da temperatura média em todas as estações. O capítulo sobre o Ártico contém indicações que podem levar a um prognóstico preocupante: até 2040, a camada congelada na superfície do Oceano Ártico deve desaparecer totalmente durante a primavera e o verão. O aquecimento global afeta mais o Ártico do que o restante do planeta. O efeito é multiplicador. À medida que se torna mais quente, maior é a quantidade de metano que libera.



           A alteração do ciclo de congelamento e descongelamento exerce enorme impacto na saúde do ecossistema da região. O urso polar, por exemplo, depende da cobertura congelada do oceano para caçar sua presa favorita, a foca. Como o congelamento está ocorrendo mais lentamente e o degelo mais rapidamente, a temporada de caça do urso se tornou muito curta, ameaçando a sobrevivência da espécie. "O derretimento tem superado o congelamento num ritmo tão acelerado que em 2040 provavelmente já não teremos gelo no verão e, em dois séculos, também não sobrará muito no inverno", diz Wadhams.

         O rascunho do relatório do IPCC avalia em 95% a probabilidade de o homem ser o principal culpado pela mudança climática. O aquecimento no Ártico não é um fato novo. Sabe-se que há aumento gradual da temperatura ao menos desde 1880. De lá para cá, subiu 2,8 graus. A hipótese provável é que o aumento na emissão de gases do efeito estufa, devido à atividade humana, como a agricultura e a indústria, seja responsável pelo aquecimento global. A influência da humanidade na temperatura global é um fato novo. Períodos mais quentes e outros mais frios fazem parte dos ciclos naturais do planeta e se sucedem em escala geológica. No momento, sentimos os últimos resquícios de uma era do Gelo. Nos últimos 10 mil anos, o aquecimento natural permitiu o desenvolvimento da agricultura e a expansão da humanidade.

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A rapidez do aquecimento não dá tempo para que os animais do Ártico se adaptem. No próximo meio século se expandirá a fronteira conhecida como "linha da árvore". Ela divide o Ártico em duas partes: a com e a sem árvores. Com o deslocamento da "linha", parte da tundra deve se transformar em florestas boreais e os desertos gelados podem virar tundra. Muitas espécies, como a Raposa­do-Ártico, podem estar condenadas.

Afirma o geólogo e glaciologista Jefferson Simões, um dos revisores do estudo do IPCC: "Essas alterações afetarão a teia alimentar mundial e também, diretamente, os quatro milhões de pessoas que moram no extremo norte. O derretimento da calota polar provocará a elevação do nível do mar". Podem ser necessários enormes investimentos para conter a incidência de enchentes em cidades litorâneas.

         A presença do dedo humano nas mudanças climáticas é, de qualquer forma, difícil de negar. Nos últimos 10 mil anos, a temperatura média subiu 5 graus. Antes da revolução Industrial, a vilã era a agricultura — o desmatamento aumenta a emissão de CO2, o principal gás do efeito estufa. Após a revolução Industrial, a concentração de CO2 na atmosfera deu um salto de 30%. A profilaxia para diminuir o ritmo do aquecimento do Ártico é conhecida: reduzir a emissão de gases do efeito estufa, principalmente o CO2. Isso se faz com o uso de combustíveis renováveis, com reflorestamento e com a adoção de práticas verdes, como a reciclagem do lixo.

         A dúvida em relação ao Ártico é a mesma existente a respeito do aquecimento global: a Terra não se adaptará sozinha às mudanças climáticas? Seja qual for a resposta, atitudes verdes resultam em benefícios para as pessoas e para o ambiente. Um exemplo: como consequência do esforço para conter o aquecimento global, o desmatamento caiu 20% desde 1990 em todo o mundo. É como se a terra estivesse com câncer, sem se saber se é maligno ou benigno. Por via das dúvidas, recomenda-se quimioterapia. Se for maligno, o mal foi eliminado. Se for
benigno, não se correu o risco.

Reportagem retirada da Revista Veja – edição 2338 – ano 46 –n°37
11 de setembro de 2013

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